"Pecado é o amor apontado para o alvo errado, acompanhado por um estilo de vida direcionado a esse alvo. Assim, temos o Pecado que conduz aos pecados” - George Knight
Karl Marx, em uma tentativa de explicar como funciona a organização da sociedade, desenvolveu os conceitos de infraestrutura e superestrutura. Para ele (importante dizer que aqui meu entendimento é menos que básico, importante não levar minha palavra como verdade pura), a infraestrutura é a base da sociedade, ou seja, de acordo com a teoria materialista histórica, as relações de produção. A economia seria a base da sociedade. Dessa base, se ergue uma superestrutura jurídica, política e ideológica. A base, que, no pensamento marxista, é a economia, determina e condiciona toda a organização social, como as coisas são organizadas.
Essa metáfora do Marx ficou na minha cabeça desde que ouvi meus queridos professores de teoria da comunicação e sociologia explicando. Depois de um bom tempo pensando sobre, entendi o porquê ela ressoou tanto: infraestrutura e superestrutura me lembram como o pecado funciona.
O teólogo adventista George Knight, em seu excelente livro “Eu costumava ser perfeito” (que infelizmente desapareceu do catálogo da Unaspress, editora que o publicou em português), diferencia Pecado, com P maiúsculo, de pecado. O Pecado é a infraestrutura, enquanto os pecados são a superestrutura.
Para Knight, “o Pecado é o amor com o foco no objeto errado. Ele significa amar o objeto mais do que o criador do objeto”. Esse Pecado, então, conduz aos pecados. Ele explica com um exemplo, mostrando que, no Jardim do Éden, Eva caiu “antes de comer o fruto”. Ela pecou “quando colocou o amor por alguma coisa (o fruto) e por alguém (ela mesma) acima do seu amor por Deus”. Esse Pecado, o amor apontado para o alvo errado, é a base de como a sociedade funciona aqui na Terra, e que condiciona a infraestrutura, todos os pecados que refletem esse amor mal-direcionado, seja morder uma fruta, maltratar alguém ou desobedecer uma ordem divina. O problema não está na infraestrutura, e sim mais fundo.
Derrotar o Pecado não é derrotar pecados individuais, atos pecaminosos do dia a dia. O Pecado é uma natureza, um poder que nos domina e nos condiciona, a base de como os seres humanos vivem e como suas sociedades funcionam. Paulo chama esse Pecado, essa natureza pecaminosa, de “carne” (Rom. 7:5).
Quando há essa confusão entre Pecado e pecado, entre infraestrutura e superestrutura, atacamos o inimigo errado. Para Marx, a revolução viria por uma transformação na base, mudando as relações de produção. Pegando os conceitos emprestados de novo, a revolução verdadeira na vida cristã só vem depois que paramos de atacar o pecado “a”, “b” ou “c”, atos pecaminosos, e nos dedicamos a lutar contra esse poder que nos domina, essa natureza que nos condiciona, esse amor equivocado que só Deus pode transformar. A luta para não viver fazendo o mal que não queremos e deixando de lado o bem que queremos (Rom. 7:18-21) é muito mais profunda do que uma mudança de comportamentos e hábitos. Quando Jesus entra, Ele quer mudar nossos amores, nossa infraestrutura.
Quando pensamos de maneira equivocada sobre o Pecado e os pecados, também nos equivocamos sobre a salvação. Ser salvo não é parar de cometer atos pecaminosos, e sim ter seu amor redirecionado para Deus e para o próximo. Assim, nossa infraestrutura vai ser composta pela Justiça de Deus, que vai condicionar nossa vida e nos moldar para que possamos produzir diversas ações justas. Não é uma mudança externa somente. A superestrutura, o comportamento, as boas ações, só passam a existir depois que a infraestrutura, o coração, foi transformado para bater junto do coração de Jesus.
Qualquer luta de nossa parte é inglória. Tudo é sobre rendição e redenção, e tudo em nossa salvação é obra misteriosa e fantástica de Suas mãos. Feliz sábado!
Cirúrgico.